O bom de assistir uma partida de futebol com um pai que já foi árbitro e até apitou jogos com o Pelé é que você sempre aprende alguma coisa em cada jogo. E lá fui eu me juntar a ele para assistir Brasil x Argentina pelo pré-olímpico/Mundial Sub-20. Clássico com os hermanos é tenso até em partida de futebol de botão, é teste para cardíaco nenhum botar defeito. Tudo é complicado e inesperado quando brasileiros e argentinos disputam alguma coisa e se tratando de futebol então, a rivalidade triplica.
O encontro entre essas seleções já era esperado. Aliás, a primeira coisa que jornalistas esportivos fazem em uma competição é analisar as chaves pra saber em que ponto o confronto vai acontecer. E aí começa o falatório: não param de sonhar com esse possível jogo até que ele, de fato, aconteça. Mas é neste ponto que a situação complica. Não sei você, caro leitor, mas eu não vejo isso tudo que narram e comentam por aí.
Será que o Brasil não aprendeu a jogar com a Argentina até hoje? Qualquer pessoa, que tenha uma noção dessa rivalidade no futebol, sabe que nossos arqui-rivais vão catimbar o jogo, fazer cera, perturbar jogadores pendurados com cartão amarelo e fazer de tudo para que haja uma expulsão. Para enfrentar os hermanos é preciso cabeça e saber administrar a partida. Mas os ‘meninos do Brasil’ pareciam não saber disso. O jogo começou tenso, como tinha que ser, e logo aos seis minutos o zagueiro Juan é expulso. Se em igualdade já é difícil, com um a menos a situação piora.
Mas os nossos narradores não enxergam isso. E digo mais, o jogo que eles veem não é o mesmo que eu vejo. É cada comentário que eu escuto que dá vontade de colocar a televisão no mudo e acompanhar só a imagem. É o ‘craque’ Neymar pra cá, o ‘brilhante’ Neymar pra lá. Não discordo do bom futebol dele, mas quem é craque faz a diferença em uma partida como essa. E se sobressair não significa fazer todos os gols e resolver tudo sozinho; é também pensar e ter visão de jogo, é tocar a bola e dar oportunidade aos outros companheiros. Eu perdi a conta de quantas vezes ouvi as frases “Neymar foi tentar o drible e foi desarmado” e “Neymar está caído e pediu a falta”. A todo o momento a tentativa era partir para cima de dois jogadores e quando não surtia efeito a saída era cair no chão e pedir a falta. E sabe por que não deu certo? Porque ele caiu do primeiro ao último minuto. Para não dizer que são só críticas, fica aqui o elogio à assistência que resultou no gol de Willian. Prova de que com um jogo coletivo, o Brasil só tem a ganhar.
O problema foi que Neymar tentou apitar o jogo, e nessa brincadeira levou o segundo cartão amarelo e está fora do próximo jogo contra o Equador. Mas não satisfeitos em apenas elogiá-lo, os comentaristas o compararam com Garrincha. Isso mesmo, com o nosso gênio das pernas tortas. E é aí que é possível notar o grau do fanatismo. Quando o argentino Iturbe, autor de um dos dois gols, foi comparado ao compatriota Messi, nossos queridos narradores disseram que é preciso esperar mais um tempo e que a comparação é precoce. Mas comparar Neymar à Pelé e Garrincha, pode? Pode NUNCA! São tantas coisas que esse jovem ainda precisa vivenciar dentro do futebol, que não faz sentido compará-lo e colocá-lo lado a lado com ícones do nosso futebol. Final de jogo, Argentina 2 x 1 e o Brasil perde a liderança do hexagonal final.
Eu continuo sem entender a falta de pé no chão de narradores e comentaristas em relação aos nossos jogadores. Existe toda uma seleção, com meninos que lutaram para conquistar uma chance de vestir a amarelinha. Tudo bem que um sempre se destaca, mas futebol é um jogo coletivo e não podemos deixar a estrela de um ofuscar o brilho dos demais. Como eu disse, continuo sem entender, mas não me surpreendo, afinal, o que dizer de imprensa e comunidade esportiva que insistem em leiloar e ainda intitular de ‘cracasso’ um certo gaúcho que, há algum tempo, nem no banco de reservas de um certo clube italiano estava mais.
Paula, voce escreve muito bem ... encontrei teu blog sem querer, pesquisando nos ultimos tweets de brasil e argentina, muito bom! E concordo com mt coisa que voce disse, parabens! Espero que faça jornalismo, uahush...
ResponderExcluirAluisio Meira